quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA DE SADAM

A HISTÓRIA DE SADAM (um nome ruim para um cãozinho tão sofrido!)




Amigos,

Numa segunda-feira, fui buscar minha esposa no
trabalho dela e, enquanto esperava, resolvi dar uma volta nas ruas
acima do zoológico. Seguindo a av. Perimetral à pé, me deparei com um
PetShop ali perto e resolvi entrar para comprar alguma coisinha para
as preciosas lá de casa. Enquanto eu escolhia um saquinho de
biscoitos, vi, atrás do balcão do caixa, um basset idoso deitado no
seu leito improvisado. Reparei que estava usando uma fralda
descartável em volta da cintura. Indaguei a dona do PetShop a idade
dele e porque ele estava usando fralda descartável.

Ela me disse que a idade dele era de 8 anos e que uns 5 meses atrás o
dono dele o trouxe ali para sacrificá-lo. E me contou a triste
história. Seu sobrinho ia sempre a sua casa e o Sadam (este era o seu nome) sempre mordia os pneus da sua moto. Um dia, o sobrinho
cansado disso jogou a moto sobre o cãozinho e quebrou a sua coluna e
três lugares. Ficou paralítico da cintura para baixo, com, inclusive,
incontinência urinária. O dono colocou o cão na calçada e deixou-o lá
em dores, para ver se alguém o levava ou se ele morria ali mesmo. Não
deixou de alimenta-lo com ração e água. Na intempérie do tempo, chuva
e maus tratos, o Sadam pegou uma infecção generalizada. Vendo que
ninguém o levava, pegou o cão e levou para o PetShop para sacrificar.

A dona do estabelecimento antes do veterinário vê-lo, moída de dó e
terna misericórdia não o quis sacrificar, pois a lojinha só tinha 3
semanas de funcionamento, resolvendo tentar salvá-lo. A infecção era
tanta que qualquer parte do corpo que ela espremesse saia pus pela
pele. O veterinário se uniu a ela e ambos o trataram com amor e
carinho e muito, muito antibiótico.

Levou tempo, mas Sadam escapou, com a graça de Deus. Hoje é o xodó da
loja e sempre acompanha a dona ao trabalho. Mas ainda se nota um quê
de tristeza em seus olhos. Ela me disse que o dono antigo ainda passou
por lá para saber do Sadam (nunca deixou um tostão para colaborar no
tratamento dele) e o cãozinho o desprezou. Pudera. Sadam foi - por 8
anos - um adorador de seu dono. Quando ele chegava, tudo era festa:
latidos de "bem-vindo meu dono" e caudas abanando, alegria sem par
durante 8 anos. Quando algum larápio tentava saltar o muro, era - de
pronto - denunciado com seus vigorosos latidos de alerta! Sempre fez
jus a uma ração barata que o dono lhe dava. É de se admirar que não
tenha pego algum câncer nos intestinos. Muito resistente, Sadam chegou
aos 8 anos de vida alegrando e defendendo aquela casa. Porém, o que
ganhou com isto foi crueldade e desprezo.

Indaguei se ele só ficava ali deitado e ela me disse que não, que ele
tinha que fazer uso de uma cadeirinha de rodas pelo menos duas vezes
por dia. E pegou um pacotinho de biscoitos e chamou o Sadam para ele
se levantar e se dirigir até ela. Quando aquela criatura maltratada se
levantou com as patas dianteiras e se arrastou pelo chão com aquelas
patas traseiras inúteis e aqueles proeminentes ossos da coluna
despontando a sua velhice, não me contive: coloquei as mãos nos olhos
e chorei. Pedi desculpas a ela e disse que eu era um banana, que o
sangue italiano que corria nas minhas veias era assim mesmo. Enxuguei
os olhos, mas eles se recusavam a aclarar uma nitidez passível de
enxergar aquela visão terrível de um ser vivente inutilizado pela mão
do bicho homem. Custei a secar os olhos, pois a indignação e a revolta
faziam com que o coração fosse saltar pela boca.  Um cão não tem como
se defender do homem. Seus dentes são insuficientes. O bicho homem é cruel e
insensível. O que fazer?????

O celular tocou. Era minha esposa chamando para ir buscá-la. Coloquei
o celular no bolso e me assentei ali no chão mesmo e chamei o Sadam
para perto de mim e o coloquei no meu colo para um abraço amigo e
confortador. Ele veio arrastando sua pernas e se colocou de frente a
mim. Eu o tomei pelas patas dianteiras e o abracei. Meu coração bateu
mais forte de emoção, pois Sadam, apesar do amigo que ganhou ainda
estava triste. Sua face demonstrava que não podia mais acreditar nos
homens. Mesmo assim, eu o afaguei e disse a ele palavras carinhosas
até que notei um pouco de brilho em seu olhar tristonho. Me levantei e
fui ao balcão pagar os biscoitos. A dona o colocou na cadeirinha de
rodas e o levou para fora para uma pequena caminhada de exercício. Ela
disse que se não fizer isto, só ficar deitado, seus rins cozinham. E
lá ia ele e a nova dona, a passos lentos, na cadeirinha de rodas pela
calçada. Me despedi e disse que faria mais visitas. Meu coração estava
partido.

Passado algum tempo, voltei lá para rever o meu amigo Sadam. Infelizmente a dona se mudou para o Estados Unidos e deixou o Sadam em outras mãos. Não conheço a pessoa, mas se ele não receber os cuidados que ele recebia dela, naquela idade, e “cadeirante”, possivelmente não sobreviverá.

Podem me chamar de covarde, mas não tive coragem de ir atrás para saber de sua situação. Dias atrás tive uma arritmia cardíaca devido a um baita stress que passei. Fiquei receoso de, ao descobrir onde ele estava e como estava ou esteve e não resistir a tristeza. 
QUE DEUS O ABENÇOE, SADAM.... ONDE ESTIVER!


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário